quarta-feira, 24 de outubro de 2012

NOITES MAL DORMIDAS


Uma ligação no meio da noite
Sem ter nada o que falar
Um sonho, uma porta aberta, um desconforto,
Uma pequena falta de ar

Queria tragar o tempo
Esse tempo que tudo leva
Que o ontem fosse amanhã
Uma manhã que se desperta

Uma noite mal dormida é só uma noite mal dormida
Uma noite que o dia transforma em bobagem  
Onde o mal é só uma penhasco
Onde jogamos nossa bagagem

Dormida é só a comida
Que ficou na geladeira
Entrega-se ao seu juízo
Não se jogue a bebedeira

Tens uma vida a viver
Novos sonhos a sonhar
Há sempre alguém em algum lugar
Um encontro a lhe esperar

Solidão nunca foi não ter a quem beijar
Solidão nunca foi não ter com quem trepar
Solidão nunca se foi
Porque solidão é uma dor que dói no peito
É uma ferida
Que teima em não fechar

A solidão é uma noite mal dormida
E uma noite mal dormida
...É só uma noite

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

FRAÇÕES DE MIM



O tempo passa em segundos fracionados
Um totem que o relógio não marca
Um corpo, um pensamento, uma lógica
Um movimento num ponteiro
Onde tudo se acaba...
E recomeça.
Um recomeço lento e sincero
Tipo aquelas frases que você não quer ouvir
Aquele tipo de certeza que não desejas ter
Ele passa. Tempo, lento, passa.
Estou a um passo do desespero
Olhares se cruzam e me questionam
Foda-se!
É o tempo.
Lento, tempo, passa.
Nunca pensei que houvesse frações em segundos
Nunca pensei que o tempo pudesse me fracionar tanto 


Henrique Biscardi

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

PROSA DE AMOR E POESIA



Era só um menino
Prendendo a libélula no olhar
Transbordando às margens de um rio
Querendo apenas serenar
Sorriso na boca faminto
Olhos de quem quer lhe pegar
Vestido curto, braços soltos, vinho doce, olhos, brilho  
Moça querendo se jogar
Mãos  que desata todos os brios
Pele aquece sem pudor
Boca molhada no cio
De joelhos, me pedindo por favor
Volto pro seu peito abrigo
Quero mais de seu cheiro, amor
Alimento fértil é doce trigo
Provo todo o seu calor
Me embriago em seu ventre, fonte, viço
Quero sentir o seu fulgor
Não me foges, agarro firme
Coxas, braços, dorso, grito, dor
Era só um menino
Querendo ter a mulher
O  mel que escorre de seu ninho
Enche toda uma colher
Penso em seus lábios macios
Sorvendo o  gosto da cana
Açucar leitoso e sadio
Desse menino sacana
Foi-se a noite, foi-se o dia
Madrugada serenou
Corpos são, mente sadia
Manhã, preguiçosa, levantou
O sol nasce do mar
Os pássaros cantam notas boemia
Quisera os reis o meu reinado
De amor e poesia

Henrique Biscardi

domingo, 5 de agosto de 2012

DESAFIO


Um degrau me desafia
Desalinhando-se à minha frente
Retratos tombam nas paredes e sorriem
Vitrais emudecidos viram-se de costas
Vergam-se, curvam-se
As paredes, frias e opacas se desgarram
Disparam verticalmente em busca do cume
Nascentes de águas surgem sob meus pés
Formando correntes que se alternam em direções opostas
Sombras caminham por entre as paredes
Rangindo tábuas e formam desenhos indecifráveis
Um vento gelado assobia e se esconde
É só um degrau
E eu subo.

Por: Henrique Biscardi

terça-feira, 31 de julho de 2012

OLHOS DE GATA

Uma copa de leite 
Um corpo em brasa
O fogo que aquece
Derrama-se em nata

Olham que brilham
Em desatino
Guarras que ferem 
Seu corpo Felino

Provacam chiado
Em cada miado
Gostoso perfume de cio

Olhos de gata
Fez-se um hiato
Lascivo



Por: Henrique Biscardi

quarta-feira, 25 de julho de 2012

SORRINDO PARA A VIDA


Nem ligo se você se faz de difícil
E nem olha mais pra mim
Você bem sabe o quanto eu sofri
Para chegar até aqui
Entre milhões, só eu sobrevivi
Então, meu dever é sorrir
Meu dever é comemorar

Unir os dois até foi fácil
Difícil foi convencer sobre a minha necessidade
De verdade, acho que não estavam muito a fim
Mas, no fim, deu
E eu estou aqui

Sei que vão pensar que não saiu muito perfeito
Que não era bem assim desse jeito
Eles tinham planejado
Que fosse!! ! Que seja!!!
Legítimo ou bastardo, o importante, de fato
É que estou aqui.

E se estou aqui, desculpem
Não estou no facebook,  mas vou curtir
Vou curtir e me divertir
Uns dizem que ele é dura
Outros que é curta
Não sei de nada disso e nem quero saber
Eu já disse, eu quero é viver!
Quanto a você?
Não precisa ser simpática nem bondosa
Eu te curto e me amarro
E te acho, tipo  assim... a maior gostosa

Quero muito te viver, vida
E tá tudo bem se eu chorar, se eu  sofrer
Sei que vou apanhar, 
Sei que vou penar para não morrer
Eu vou vencer!
Serei eterno!
Em meu ser, por ti querer, em meus versos
Já dizia o poeta
Se a alma não é pequena
Tudo vale a pena!
E a vida vale.

Eu tenho a alma elástica
Então, dá licença
Vou falar de coração
Se a vida não sorri pra gente,
A gente, ainda assim, sorri pra ela
Quem sabe um dia ela não se cansa e acorda
Sorrindo para mim

sábado, 21 de julho de 2012

SAUDADES DA LUA

Um cheiro de manga madura
Moldura feita de lenha

Qualquer notícia que venha

Traga-me ser amado


Fumaça que arde nos olhos

Pimenta que cala meus lábios

Amarelo na manga da blusa

Um gosto que me vem, amargo


Sorriso desfeito, disfarço

Dores que acolho em meus braços

Saudades eu já vivi

Sonhos trazidos num olhar 
Luar que eu escondi

Luz que ilumina meus dias
Flores que colho no jardim
A vida não é só alegrias
Nem espinhos me trazem apenas dor
Lua de Saudade          

Henrique Biscardi

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A LIBÉLULA ENCANTADA


Hoje o sol me despertou
E fez luz no meu rosto menino
Clareou pensamentos e palavras
Rimas e bravatas de um coração peregrino

Devo  lhe dizer
Desde que chegou
A poesia ruma sem destino

Solta, com os braços aberto, pedindo vento
Desbravando tempos e templos
Sobrevoando morros e mares
Desafiando mentes, correntes  e marés

Moleca danada, desfilando descalça e arteira
Sem cerimônias, ignorando da vida dogmas e outras besteiras
As mãos estendidas, o peito aberto
E as marcas no rosto de um tempo que não passa

Demorei a entender o que é felicidade
Sempre ouvi dizer
Antes nunca do que tarde
 Há sempre uma verdade que desencanta os sonhos

Mentira!!!
Existe eternidade!
Hoje, eu sei
Nos dias que o sol não amanhece
Nas noites que sua falta me entristece
Tenho você, minha libélula encantada. 

Por: Henrique Biscardi

quarta-feira, 20 de junho de 2012

VERSOS DE SONATA E POESIA



Os olhos eram de amor
A boca era só desejo
Um vestido muito molhado
Arrancado, sem gracejo



Nossos poros  se encaixavam   
E a mão lhe era certeira
A moça se contorcia
Agachada à cabeceira


Seu corpo era um bailado
De sonata e poesia
Sua alma arriscava
impropérios, picardias


A cabeça tombava pro lado
E os olhos viravam no cio
Prazeres são gritos no ar
Água doce , cheio rio


Exalado por todos os poros
Seu cheiro me invadia as ventas
Perdido entre suas pernas
Degustava o gosto de menta


Já era hora de acordar
De uma noite sem dormir
Ela tentava se arrumar
E eu ali a lhe despir


Passo o dia a trabalhar
Essa vontade é que não passa
Se a noite se demora
Tudo largo, vou embora


Dizem que o amor é passageiro
E da paixão, nem se fala
Se o que tenho é tesão
É teu corpo quem me cala


E assim vou vivendo os dias
Suspirando a madrugada         
Seu corpo é meu abrigo
Seu umbigo?

Amo você
Minha linda, bela e elegante sonata

Por: Henrique Biscardi

terça-feira, 5 de junho de 2012

PERFUME DAS AGUAS

Um aroma consome a distância e me faz parar diante de ti
Águas cristalinas capturam meu olhar
E me cegam
Nesse instante, sou apenas cheiro e tato
Percebo que só me resta mergulhar em seu ventre 
E tentar desvendar os caminhos que formam o seu leito
Suas margens me parecem infinitas percepções daquilo que, antes, me parecia finito
E suas águas me parecem tão profundas, mas tão profundas
Que penso ir além do que meu pobre corpo mortal suporta
Não importa, eu mergulho
Cego e nu
Despido de meu orgulho
Deixo para trás todas as minhas reminiscências
Confio em sua alma elástica
Confio em suas águas, em sua transparência
Espero apenas que o som da sua voz me guie
Quem sabe, não chego até você por seu cheiro?
Quem sabe o mar não é maresia?
Quem sabe amar não é poesia?
Um aroma consome a distância e me faz parar diante de ti
Águas cristalinas capturam meu olhar
E me cegam
E apesar disso, agora eu vejo
Tudo aquilo que nunca quis enxergar

Por: Henrique Biscardi

segunda-feira, 7 de maio de 2012

PEDRA TUA


Fragmento calcário
Esculpido em calor, agua , sombra e dor
Brasa adormecida
Misturada à terra
E tocada por sua curiosidade


Entre o indicador e o polegar
Sou imaginação!
Deixe-me percorrer pelo abismo de seus temores
Deixe-me descortinar suas mágoas
Deixe-me estravasar sua ira 


Se lhe incomodo por estar em seus sapatos
Também não permito que suas histórias sejam jogadas ao vento
Eu te sinto e te liberto 
Você me aperta e sente
O quanto a vida é dura


Liberta-me
Liberta-se
Arremessa-me ao encontro de uma vidraça
Que eu faça estardalhaços maiores que a sua risada
Que eu seja a sua ira


Sou fragmento que fragmenta 
Sou coléra de sentimentos
Sou colapso e reconstrução
Não tenho asas, mas através de ti
Posso voar 


Corto o vento e estilhaço o tempo
Sigo na velocidade da luz
Em busca do nada
Rabisco as água do rio 
E deixo que círculos se formem ao meu redor


Eu vou e volto
Sou boomerangue
Sou o que vai na ponta do estilingue
Sou força bruta que sua alma elástica
Não quer soltar


Sou pedra tua, menina

Cantada em jogo de azar
Seu número da sorte
Seu destino, seu norte
Sou palavra que não quer calar





Por: Henrique Biscardi

quarta-feira, 2 de maio de 2012

VIDA DEBOCHADA

Camaleando a vida
Saciando a fome do leão
Um dia, cigarra
Outro, escorpião

Equilibrado sobre galhos

Canto para os males espantar
Se não me agradas, sai de perto
Pro meu ferrão não te pegar

Sobre as armadilhas da vida
Não falo, tiro de letra
Se hoje, sou lagarta
Amanhã, borboleta

Azuis ou amarelas
Coloridas e desbotadas
Não há atalhos ou ciladas
É a vida que passa assim por mim, debochada.


Por: Henrique Biscardi

quinta-feira, 26 de abril de 2012

VERNIZ


Um silêncio soprou em meus ouvidos
Palavras que meu ser me ocultou
Dar mais ouvidos ao Ego que ao Siso
Fazer o que for preciso
Para não morrer de amor

Uma brisa corta meus olhos
E fere o meu orgulho
Lágrima de despejo e alívio
Uma centelha de fogo se apagou

Larvas de vulcão adormecido
Escorrem pela montanha sem pudor
Iluminam a noite como o dia
lágrimas e luz, um arco-íris!
Esperança, aleivosia, se vingou

E a vida recomeça
Do pólen que se desprende de uma flor
Há sempre um verniz em todas as cores
Há sempre um verniz em todas as dores


Henrique Biscardi

quarta-feira, 25 de abril de 2012

PÓ DA VIDA


Eu quero é respirar mais o pó dessa terra
Nasci só
Mas foi para poder começar do zero
Pegando a estrada, eu fui
Por esses caminhos que nem Deus conhece
Atravessei estradas, mares

Na terra, fui deserto
Nas águas, oceano
Pelos céus,voei com as aves
Nadei com os peixes
Rasteijei como os répteis
Fui também anfíbio
Vivia no seco e no limbo
Bebi do suor do ventre da moça
Apanhei da maldade do homem
Conheci gente de tudo o que foi canto
De tudo o quanto foi crença
De tudo o que foi essência
Apaixonado eu sou por todas as cores
Todas as crenças, todas as castas
Todas as saias, por todas as raias
Por ti, mulher
Dona de todos os lares
De todos os amores
Dona de todas as vidas
E em tudo o que foi lugar
Deixei um afago, um sorriso
E fiz também bons amigos!
Trago a lembrança de todos eles comigo
E os homenageio nas poucas linhas desse verso
Rapaz,
A vida começa agora
Agora que tanto conheci e vivi
E sou capaz de dicernir
Não! Logo agora que tenho você, minha rima
Minnha querida rima, minha companheira
Que tanto me acompanha
Sóbrio ou depois da bebedeira
Brindo a você, princesa
Graças a você
No fim de minha vida
Não voltarei para onde muitos imaginam
Para nós, que vivemos e crescemos em nossos versos
Somos eternos
Porque para nós
A morte é só !!!
A vida é pó e  sia


Henrique Biscardi

sexta-feira, 20 de abril de 2012

DIA CHUVOSO


Dia chuvoso em meus olhos
Perdido numa noite que não finda
Queimando pela chama que aquece
Esquecido por escolhas que envaidece
Caminhos que não me foram permitido

Não vejo alegria na luz que me clareia
Não sinto firmeza na mão que me ampara
Solidão que marca o descompasso
Tristeza que se rompe e se escancara

E a vida segue em seu compasso
Indiferente às agruras que eu passo
Segue o seu curso, o seu caminho

Dia chuvoso em meus olhos
Ao redor, tudo está seco.

Henrique Biscardi

quarta-feira, 11 de abril de 2012

ETERNA NAMORADA

Um dia, "sei lá"
Sol na moleira
Em frente a barraca do seu Ferreira
Rodou sua saia
Menina faceira

Na boca melada por cajá
Lingua doce a penetrar
Respondi, está bem, vamos lá

E você se prestou assim, a bailar
Puxando meus braços a lhe grudar
E eu, bunda estatelada na sarjeta
Esperando alguém que me desse um trocado
Uma gorjeta

No meu cangote grudou
Seus braços, me laçou
Me tomou, possuiu, fincou

Um dia,  "Sei lá"
Fui pego assim, sem esperar
Meu coração jogado às pressas
Ao "Deus dará"
De encontro a esse seu pulsar

Na minha vida fez morada
Essa moça que veio do nada
Fez-se eterna namorada



Henrique Biscardi

segunda-feira, 9 de abril de 2012

GOTAS


Gota
Soma
Vida
Toda
Tola
Gota

Cai e nem avisa
Gotas felicidade
Gotas tristeza
Gotas cheias
Vazias, Gotas
Gotas

Desce e percorre
Marcas no rosto
Pegadas da vida
Céu e ferida
Dor e alegria
Gotas

Molha meu rosto
Molha meu corpo
Transborda minha alma
Cria poças
Forma rios
Liberta-se em mares

Gotas de suor
Carregam o seu cheiro
Gotas de amor
Afogam o meu peito
E descem pelos ralos
Gotas

Gotas de saudade
Que deságuam do chuveiro
Gotas de por quês
Gotas de ti querer
Aquela que se vai e esvai-se
Gotas

Gotas de chuvas
Que embaçam as janelas
E me encontram sozinho
Fazem-me companhia
Saboreiem comigo
Essas gotas, de vinho

Henrique Biscardi

terça-feira, 3 de abril de 2012

A RETINA DE SEUS OLHOS



Vejo na retina de seus olhos uma espera
Em seu corpo,
Quimera de fogo sagrado
Tocado somente pelos Deuses
No momento da criação

Oro por minha alma
Desejo que ela seja arte
Que ela seja parte
Que ela seja pura
E que esteja alienada de meus mais obscuros desejos

Espero, de verdade
Que ninguém perceba
Que ninguém me julgue
E que você conceda
O ensejo blasfêmico de lhe tocar

Quero tragar esse perfume que seu sopro
Exala
Quero enxergar além de seu ventre
Quero me abster de estar presente 
E, nesse infinito prelo, desaguar

Quero passear por todos os cantos
Viajar por outros planos
Afogar-me em seu pântano
Submergir em sua pele movediça
Transformar-me num totem de pólen e cortiça 

Feixe de luz abstrato
Seiva visceral
Caminhos longos
Férteis e dourados
Fecundo milharal

Ângulos e retas
Olhos, boca, braços e pernas
Dorso, contornos, luz e dor
Suor, saliva, mãos, pele
Amor

A luz do dia chegou
E eu nem senti
Passei a noite inteira acordado
Em seu porto, ancorado
E iluminado!  pela sua retina

Por: Henrique Biscardi

sexta-feira, 30 de março de 2012

HUMILDE ESPERANÇA

Eu queria ser mais humilde
E acreditar que eu poderia
Errar mais
Mais, então, eu teria
Trabalhado a minha sina
Em aceitar de bom grado
Um elogio que me valhesse

Talvez então, eu precebesse
Que esse exato discerni que me apavora
É apenas um substrato,
Um devir de minha alma
Uma instigância
Que em nada tem a ver com arrogância
É apenas, esperança


Por: Henrique Biscardi 

quinta-feira, 29 de março de 2012

INTERVALO

Deixo sempre esse espaço
Esse intervalo
Entre eu e a próxima
Entre o presente e o passado
Entre o que foi e o que ainda será

Deixo sempre esse espaço
É para me refazer, para respirar
Mais se quiser, pode chegar
Só não demore
E fique, o quanto puder, o quanto quiser

Agora, se é para vir, venha com força!
Me jure, me mate,
Que eu morra!
E que eu me perca, 
E me ache

E que em nosso encontro longitudinal
Tudo seja permicivo,
Tudo seja passional
Erupçoes vezuviais
Tornados atrozes
Tsunamis vicerais

Mas quando você sair
Deixe na mesa um trocado
É pro café, pro cigarro
Para algo que eu possa fazer
Nesse sofrido
Intervalo

Por: Henrique Biscardi

quarta-feira, 28 de março de 2012

UMA RAZÃO PARA ESTAR AQUI


Eu Sabia
Alguma razão existia

Não que se precise de alguma razão para amar
Não! Não há
Há sim, contra-sensos
Um não querer olhar
Um desviar, um esconder-se,
Dis-far-çar

Mas do que adianta o não querer?
Se quem antes o precede já o quer
O desejo, esse moleque atrevido
Enxerga antes do que o visto
Calcula a mais do que o previsto
O que se tenta racionalizar

E não adianta mesmo o não querer
Quando córregos de sangue
São interpelados por um sopro estanque
Vindos do coração
Sinapses de tesão deixam neurônios enlouquecidos
A respiração fica ofegante
Odores saltam-se, inebriantes
E aí, meu amigo, não dá mesmo para disfarçar

E então, seu corpo sapateia 
E a menina, faceira,
Passa, de um lado ao outro, a bailar
Numa noite de sexta-feira
Em passos deliciosamente trôpegos
As duas almas se tocam

Eu já sabia
Alguma razão existia
Para  eu estar
Aqui 

Por: Henrique Biscardi

quarta-feira, 21 de março de 2012

O RESTO DE NOSSOS DIAS

Não!
Não está tanto calor
Pensei apenas em você
Com um pouco mais de amor
Eu sei
Também achei
Era impossível mais ardor
Mas o possível se tornou
Algo assim, tão previsível

Que a ninguém mais enganou

Encurto, então, essas palavras

E te agarro sem pudor

Te rapto, te levo pra cama

Pro nosso ninho de amor

Se o dia amanhece agora

O problema é dele

Se no trabalho tenho hora

Quem quiser, fique com ele
Pois não há mundo mais agora
Que vejo o seu corpo, assim, despido
Não é nada descabido
É apenas um visão de vida
Nos acabemos, assim, em brisa
Pois nada mais faremos
Pelo resto de nossos dias

Por: Henrique Biscardi

AMORES DISTANTES


É à noite que minha luz acende
Brilho intenso, luz de se despertar
Raivoso, coração isento
Talento não há de faltar

Vou lhe dizer palavras
Que não jogaras ao vento
Nem hoje, nem em qualquer tempo
Em qualquer lugar

Verdades não ditas a tempo
Que o medo não faz apagar
Me diz do que é feito esse seu olhar atento
Que não consigo decifrar

Nem a poeira que entra nos olhos
Arde e me faz chorar
É capaz de apagar a saudade do que não vivi
Dessa moça que me faz sonhar

Sonhos que perdi agora
Insônia de hoje
Ou de qualquer hora
Venha me acalentar

Nas horas que acordam o galo
Sou homem fialho  
Que foge das madrugadas frias da vida
Aquecendo-se nas lembranças de seu olhar

Mantenho viva, a esperança
Quem sabe um dia,  crio coragem
Compro passagem
E saio, para te encontrar



Henrique Biscardi

terça-feira, 20 de março de 2012

CIÚMES

Venha cá
Pare de graça
Parece criança
Fazendo pirraça
Beijando outra boca
No meio da praça
Querendo me fazer ciúmes

Coitado desse seu cúmplice
De olhos fechados
Todo compenetrado
Esforçando-se ao máximo
Para lhe dar algum prazer

Olha aí, não está vendo
Não há em você, nenhum desejo,
Suas pernas, eu vejo, estão firmes!
Beijas ele quase sem querer
Suas mãos, nem sabem o que fazer
Ficam aí, frouxas, soltas
Segurando o nada

Não devias tanto sofrer
Ocupar-se em me procurar
Só beijo quem desejo
Por quem tenho tesão
Por que então, essa atitude descabida,
Essa sua tola encenação?

Logo, a manhã vai surgir
Vou caminhar sozinho e deitar na rede
Vou sentir o seu cheiro
Vou sonhar com você
A noite passada foi passada
Ficou para trás
Pedaços de vida
Escondidos de nós

E se hoje não encontro seu corpo
Em meus lençóis
Apenas fica a pergunta
No amanhã,
O que será de nós?



Por: Henrique Biscardi

MEMÓRIA

Bebia ponche de olho em seu vestido rodado
Meias três quartos, brincos brilhantes
E um sorriso safado, mau comportado
Distantes
Do que eu podia
Perto do que eu queria
Mas você, já naquele tempo, sabia
Meus anos jamais seriam dourados.  

Passava o dia em ti pensando
E o pensamento voava até sua janela
Em brisa, pano e pedra
Ignorou os meus recados
Olhos no vidro trincado
Seu pai me pegou pelo braço
Você debochando de meu amor.

Te vi de novo nos meus anos de rebeldia
Polícia chegando, o pau quebrando
E você nem sabia
Seu pai, coronel
Prendeu-me por desacato
Vagabundo, malandro e viciado
Condenado sem nunca ter fumado, cheirado, picado...

Nos anos 80 eu era vanguarda
Conheci a cinelândia nos ombros do povo, ao lado do Brizola
Da Fafá, do Tancredo
De sua casa, diante de seu marido, seus filhos
O amor em segredo
Da saudade que doía em seu peito nasceu a lágrima
Que  todos pensaram ser de liberdade

Na outra década, decadência
Filho marginal, filha vagabunda, mulher traíra!  
Uma geração sem rumo, perdida
Sentia-me melhor quando era bosta
Mas o mundo de hoje é tão virtude, é tão virtual
Bool sheat!,  talvez eu pense, realmente pense
Nunca fui normal

E com essa anormalidade claudicante
Fui vivendo, amores itinerantes!
Alguns até interessantes
Eu, minha arrogância e meu viagra
Você fez bem naquela noite, meu bem
Eu te chamei para dançar e você não quis

Fomos sempre tão distantes,  
Fomos sempre, desiguais.
Esse vil desejo delirante
Espécie dilacerante
Cobre que derrete
Te serve, te prende, te cola
Te molda

Hoje, sua imagem não é tão bela
Está exposta em praça pública
Arranhada, pichada, dilacerada
Imagem bruta e fria
Onde não bate mais um coração
Pessoas olham e não te enxergam
Nenhuma delas tem os meu olhos
E eu, ainda te amo.

 
 
Henrique Biscardi

terça-feira, 13 de março de 2012

ESTRADA

Acima de nós há um atalho
Tento, em vão, descobrir porque sigo na estrada
Placas me sinalizam a direção errada
Olhares luminosos na beira da estrada
Enfatizam
De um lado, a montanha
Do outro, o abismo

Curvas me jogam de um lado ao outro
E chego a pensar o quanto elas desejam que eu derrape
Eu não ligo, sorrio
Confesso que adoro suas curvas, seu gingado
E pode me balançar a vontade
Sou como gato,
Tenho sete vidas

De vez enquanto, eu erro a mão
E ligo o rádio para não te escutar
Mas logo vem a luz da lua
Iluminando o seu asfalto,
Realçando o seu charme
Um tanto assim que  é quase verdade  
Penso mesmo em eternidade

Não existe nisso tudo, tanta verdade
Não tenho tanta perícia
Prudente seria ter pego lá no início,  o atalho  
Nosso amor era menor que a nossa estrada
E exprimido entre o abismo e a montanha, vejo
Hoje, não há mais possível estada  
Longe de você



Por: Henrique Biscardi 

POESIA

Eu nem te conhecia
E  já desejava a sua boca
Ficava extasiado com esse seu querer,
Essa sua vontade louca
Esses seus segredos e mistérios
Esse seu sorriso sincero  
Eles, me fizeram te esperar

Eu nem te conhecia
E já sabia o que é felicidade
Pintou assim, do nada na minha vida
Toda se querendo, só vontade
Como folhas que esperam a luz do dia para respirar
Flores que aguardam a primavera para florear
Eu esperava a lua mais bela para me encantar

Eu nem te conhecia
E meus dias já faziam mais sentido
O despertar do dia, o entardecer e a noite
Nas cores, havia um novo colorido
Tudo era mais belo, mais bonito
Parei de reclamar da vida
Passei a escrever poemas

Eu nem te conhecia
E já tinha inspiração
Era fechar os olhos e sentir seu toque
Sua pele, seu cheiro, seu tesão
Impulsionado as idéias
Corpo, mente, coração
E as palavras saiam, assim, em profusão

Eu nem te conhecia
E já sabia
Talvez eu nunca te veja
Talvez seja, apenas, uma visão
Uma esquizofrenia poética, uma imersão
Um anjo caído, perdido, um delírio
Talvez uma carência, um desejo, um cio

Ah! deixa pra lá
O que importa?
O que vai além do ser e do estar  em sua companhia?
Ah! deixa pra lá
Venha cá, me dê um sorriso e um beijo 
Antes, a noite termina
E a gente vai pra casa juntos, namorar

Por: Henrique Biscardi