quinta-feira, 26 de abril de 2012

VERNIZ


Um silêncio soprou em meus ouvidos
Palavras que meu ser me ocultou
Dar mais ouvidos ao Ego que ao Siso
Fazer o que for preciso
Para não morrer de amor

Uma brisa corta meus olhos
E fere o meu orgulho
Lágrima de despejo e alívio
Uma centelha de fogo se apagou

Larvas de vulcão adormecido
Escorrem pela montanha sem pudor
Iluminam a noite como o dia
lágrimas e luz, um arco-íris!
Esperança, aleivosia, se vingou

E a vida recomeça
Do pólen que se desprende de uma flor
Há sempre um verniz em todas as cores
Há sempre um verniz em todas as dores


Henrique Biscardi

quarta-feira, 25 de abril de 2012

PÓ DA VIDA


Eu quero é respirar mais o pó dessa terra
Nasci só
Mas foi para poder começar do zero
Pegando a estrada, eu fui
Por esses caminhos que nem Deus conhece
Atravessei estradas, mares

Na terra, fui deserto
Nas águas, oceano
Pelos céus,voei com as aves
Nadei com os peixes
Rasteijei como os répteis
Fui também anfíbio
Vivia no seco e no limbo
Bebi do suor do ventre da moça
Apanhei da maldade do homem
Conheci gente de tudo o que foi canto
De tudo o quanto foi crença
De tudo o que foi essência
Apaixonado eu sou por todas as cores
Todas as crenças, todas as castas
Todas as saias, por todas as raias
Por ti, mulher
Dona de todos os lares
De todos os amores
Dona de todas as vidas
E em tudo o que foi lugar
Deixei um afago, um sorriso
E fiz também bons amigos!
Trago a lembrança de todos eles comigo
E os homenageio nas poucas linhas desse verso
Rapaz,
A vida começa agora
Agora que tanto conheci e vivi
E sou capaz de dicernir
Não! Logo agora que tenho você, minha rima
Minnha querida rima, minha companheira
Que tanto me acompanha
Sóbrio ou depois da bebedeira
Brindo a você, princesa
Graças a você
No fim de minha vida
Não voltarei para onde muitos imaginam
Para nós, que vivemos e crescemos em nossos versos
Somos eternos
Porque para nós
A morte é só !!!
A vida é pó e  sia


Henrique Biscardi

sexta-feira, 20 de abril de 2012

DIA CHUVOSO


Dia chuvoso em meus olhos
Perdido numa noite que não finda
Queimando pela chama que aquece
Esquecido por escolhas que envaidece
Caminhos que não me foram permitido

Não vejo alegria na luz que me clareia
Não sinto firmeza na mão que me ampara
Solidão que marca o descompasso
Tristeza que se rompe e se escancara

E a vida segue em seu compasso
Indiferente às agruras que eu passo
Segue o seu curso, o seu caminho

Dia chuvoso em meus olhos
Ao redor, tudo está seco.

Henrique Biscardi

quarta-feira, 11 de abril de 2012

ETERNA NAMORADA

Um dia, "sei lá"
Sol na moleira
Em frente a barraca do seu Ferreira
Rodou sua saia
Menina faceira

Na boca melada por cajá
Lingua doce a penetrar
Respondi, está bem, vamos lá

E você se prestou assim, a bailar
Puxando meus braços a lhe grudar
E eu, bunda estatelada na sarjeta
Esperando alguém que me desse um trocado
Uma gorjeta

No meu cangote grudou
Seus braços, me laçou
Me tomou, possuiu, fincou

Um dia,  "Sei lá"
Fui pego assim, sem esperar
Meu coração jogado às pressas
Ao "Deus dará"
De encontro a esse seu pulsar

Na minha vida fez morada
Essa moça que veio do nada
Fez-se eterna namorada



Henrique Biscardi

segunda-feira, 9 de abril de 2012

GOTAS


Gota
Soma
Vida
Toda
Tola
Gota

Cai e nem avisa
Gotas felicidade
Gotas tristeza
Gotas cheias
Vazias, Gotas
Gotas

Desce e percorre
Marcas no rosto
Pegadas da vida
Céu e ferida
Dor e alegria
Gotas

Molha meu rosto
Molha meu corpo
Transborda minha alma
Cria poças
Forma rios
Liberta-se em mares

Gotas de suor
Carregam o seu cheiro
Gotas de amor
Afogam o meu peito
E descem pelos ralos
Gotas

Gotas de saudade
Que deságuam do chuveiro
Gotas de por quês
Gotas de ti querer
Aquela que se vai e esvai-se
Gotas

Gotas de chuvas
Que embaçam as janelas
E me encontram sozinho
Fazem-me companhia
Saboreiem comigo
Essas gotas, de vinho

Henrique Biscardi

terça-feira, 3 de abril de 2012

A RETINA DE SEUS OLHOS



Vejo na retina de seus olhos uma espera
Em seu corpo,
Quimera de fogo sagrado
Tocado somente pelos Deuses
No momento da criação

Oro por minha alma
Desejo que ela seja arte
Que ela seja parte
Que ela seja pura
E que esteja alienada de meus mais obscuros desejos

Espero, de verdade
Que ninguém perceba
Que ninguém me julgue
E que você conceda
O ensejo blasfêmico de lhe tocar

Quero tragar esse perfume que seu sopro
Exala
Quero enxergar além de seu ventre
Quero me abster de estar presente 
E, nesse infinito prelo, desaguar

Quero passear por todos os cantos
Viajar por outros planos
Afogar-me em seu pântano
Submergir em sua pele movediça
Transformar-me num totem de pólen e cortiça 

Feixe de luz abstrato
Seiva visceral
Caminhos longos
Férteis e dourados
Fecundo milharal

Ângulos e retas
Olhos, boca, braços e pernas
Dorso, contornos, luz e dor
Suor, saliva, mãos, pele
Amor

A luz do dia chegou
E eu nem senti
Passei a noite inteira acordado
Em seu porto, ancorado
E iluminado!  pela sua retina

Por: Henrique Biscardi