segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ORAÇÃO A UMA MOÇA

Que seus braços longos me encontrem,
Me abracem, me alonguem...

E que eu alcance o seu lado mais bonito
Aquilo que tens de melhor,
Aquele seu dom,
Acanhado, envergonhado, cansado, escondido
E mostrar-se assim, para mim,
Desinibido.

Que seu olhar me perceba
E me conceda compartilhá-lo

E que eu o veja me procurando,
Me decifrando,
Percorrendo trilhas e labirintos
No esmero espanto gostoso das manhãs
No fresco das tardes
E no frenesi das noites

Que seus lábios me toquem
Me percorram, me sintam

E que eu sinta sua boca presa na minha
Solta e entreaberta
Pronta para ser e estar
A descoberta,
E nas cobertas, te encontrar
Despida

Que nossos corpos se entreguem
Se encontrem, se encarreguem

E eu possa dividir contigo os desejos
Compartilhar as esperanças
Somar nossas almas
E quando tudo isso for possível
Quero acordar
E te encontrar ao meu lado

E lhe fazer um café,
Lhe colher uma rosa
Lhe prender entre os lençóis,  
Fazer-lhe cócegas
beijar seu umbigo
Devolver a seu rosto, esse sorriso que tanto me encanta

Amém

Henrique Biscardi


domingo, 16 de outubro de 2011

TE QUERO


Quero as suas mãos decifrando o meu olhar
Quero o suor do seu corpo
Na temperatura ideal
Quero a candura de menina
E a sagacidade de mulher
Quero tudo, a sua altura

Devora-me por inteiro
Deseja-me por inteiro
Inteiro e sereno em seu olhar
Não quero pressa,
Prece precisa
Preciso olhar

Quero estar na alcunha de um pedido
Quero que precisas me chamar
Quero a chama e o chamariz de quem deseja
Quero a paz profunda de quem se esconde
Em qualquer alfurja em que te encontrar

Quero lhe surpreender em suas entranhas
Mas estranhas para ti do que para mim
Quero que conheça os meus caminhos
Quero me perder em seus carinhos
Achar os seus atalhos
Suas divisas
Ambíguas,  silenciosas,  gostosas
Te quero 

Por: Henrique Biscardi

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

ENQUANTO ELA DORMIA

Se fosses minha,
Voz eu não teria
Que pudesse lhe despertar.

Ouviria o som das cachoeiras
Do grilo, o chacoalhar e a zoadeira,

Fazendo o corpo se virar
 

Nas copas das árvores,
Um vento, uma brisa, 

De fazer seu corpo arrepirar 
 E eu, carinhosamente assistindo,
A noite inteira insistindo 

Em ler o seu pensar
 

Imagino, sonhas comigo
Pássado voltando pro ninho,
Depois te tanto gracejar
E te vejo até sorrindo,
Num gesto de ternura
Pensei que fosse me abraçar
 

Espreguiça, meu amor
cole a cabeça em meu peito,
Sinta o meu amor
Role de um lado a outro
braços e pernas
Novo enrosco
 

Teu corpo baila sem pensar
Meu amor! Meu amor!
Como é bom te ver sonhar
Durma, descanse,
Porque antes que a manha nos alcance
Vou lhe acordar pra gente se amar.



Por: Henrique Biscardi

FELINA


Estou só em minha luta
Na labuta da noite,
No miado do gato que mia
Na espreita da rua fria,
Esguia, suave amarga mania
De fome, de selva, geria
Gélida boca desatina 
Mentira, sangue e carniça
Na latrina de um mais queria
Toda tola, vã, esperança viva
Que nunca morre, sem valer a vida

Siga em frente em sua teimosa ia
No bailar de versos e poesia,
Resistindo à força a forçosa ira
De mentes perversas e possuídas
Baila esperto por entre fios e lixeiras
Pula, Felino!
Por entre telhados, zinco e telhas
Selvagem, centelha
De fogo, coragem,
Pois não lhe falta amor
Há em você verdade

Preserve, então, a doce eterna magia
Desse sonho que um dia sonhou, eternizar 
Encare a dor que se apressa em via
Se deve acontecer, acontecer ia
Hoje ou qualquer dia
Quem sabe assim, desistiria  
Dessa loucura de ter sete vidas
Quem sabe assim, não mais me veria
Como um vira latas qualquer
Deitado a sua espera
No parapeito de uma janela, de vidro.  


Por: Henrique Biscardi

terça-feira, 4 de outubro de 2011

DISSOLVIDO



Sonho sonetos dissonantes
Dissolvidos , dissolventes, dissolutos
Naquilo que tanto luto
Um dia que reluto
Penso
Se existe existência maior do que a crença
Não vejo
Se existe verdade mais verdadeira que tem convença
Não enxergo
Quem te cegou?
Dizem que o amor é que é cego

Foi seu cigano que, salvo engano
Avisou-me de tal desencanto
Desencane de tal culpa, moço
Não foi mero seu esforço
Esmero dorso que me encantou
Me derrubou, mas não na cama
Porque lá ainda me amas
Porque lá ainda me queres
Sem querer dizer
Sem querer se convencer

Mas nem por isso
Serão minhas as rugas
Nem frias serão as ruas 
Sofrimento sofrível até pode acontecer
Por ver seu corpo ardendo sem poder
Porque se podes arder assim
Como é que depois que sai de mim
Mim não existe
Para você?

Não suplico uma explicação explicada
És sincera em meu braços, amada
Isso para mim é o que importa
Pois quando dizes que sua mente acorda
Pensas que me apavora
Mas reprovas a prova de toda a hora
Pois não são minhas as mentiras
Não são meus os disfarces



Desfaço logo qualquer mal entendido
Qualquer desejo reprimido
De querer impor minha verdade
Eu sei quem és, dona sem maldade
Diga, então, sinceridade
Sincero fui em qualquer tempo
Qualquer idade

Sinto a distancia distanciando
Numa nuvem, se apagando
Longe, divagando
Me perdoe,
Meu coração não está amando
Está sofrendo, está parandode te amar

Parado pardo apático
Laço desfeito e enfático
O grito do eco lascivo
Nocivo, venal , fel
Destino cru, nu e cruel

Desvelada sua vil natureza
Por de trás de tanta beleza
Encontrei uma fúria desenfreada
Freada, fria e precisa

Fez o que era preciso
Num tarde de inverno qualquer
Deixou-me sozinho na estrada, a pé

Abriu o ralo
E viu descer nosso amor

Dissolvido


Por: Henrique Biscardi

sábado, 1 de outubro de 2011

QUE SEJA


Pensei em lhe escrever algo
Que fizesse mais sentido
Do que o meu eu, assim mordido
De tanta insistência, resistência, clemência, paciência
Para olhar assim, só um pouco,
O Seu sorriso

Ainda que, com a luz apagada,
Penso caminhar distancias
Distancias que são marcadas
Pegada a pegada,
Dor e pulsação
Contente e acelerada

E nós aqui, teclando, teclando, teclando
Meu coração quer encontrar os seu
Quer desejar a sua boca,
Gamar no seu sorriso,
Lhe engabelar
Cumprir os seus caprichos

Respirar a sua transpiração,
Inspirar e sonhar
Acordar diante dos seus olhos acanhados
Maldosamente, entranhados no travesseiro
Cuidadosamente assentado,
Forma e esmero

Seu corpo é um poema e minha voz está rouca
Sofrida e abafada pelas intermináveis horas
Loucas,
E permanecemos aqui
Teclando, teclando, teclando

Enquanto o mundo corre lá fora
E esperamos aqui dentro
Uma pausa, um offline
A entrada, um alento
Nesse meio tempo
Tenso

Nas linhas, nas falas, no verbos,
Uma palavra, um verbo
Uma linha, uma virgula, um ponto,
Bate o ponto e o ponto
Mas não bate as horas
De ir ao seu encontro

E continuamos
Teclando, teclando, teclando
E eu aqui imaginando
O que falta para esse nosso encontro?
Que seja carnal , venal, que seja
Que seja. 

Por: Henrique Biscardi