sexta-feira, 30 de março de 2012

HUMILDE ESPERANÇA

Eu queria ser mais humilde
E acreditar que eu poderia
Errar mais
Mais, então, eu teria
Trabalhado a minha sina
Em aceitar de bom grado
Um elogio que me valhesse

Talvez então, eu precebesse
Que esse exato discerni que me apavora
É apenas um substrato,
Um devir de minha alma
Uma instigância
Que em nada tem a ver com arrogância
É apenas, esperança


Por: Henrique Biscardi 

quinta-feira, 29 de março de 2012

INTERVALO

Deixo sempre esse espaço
Esse intervalo
Entre eu e a próxima
Entre o presente e o passado
Entre o que foi e o que ainda será

Deixo sempre esse espaço
É para me refazer, para respirar
Mais se quiser, pode chegar
Só não demore
E fique, o quanto puder, o quanto quiser

Agora, se é para vir, venha com força!
Me jure, me mate,
Que eu morra!
E que eu me perca, 
E me ache

E que em nosso encontro longitudinal
Tudo seja permicivo,
Tudo seja passional
Erupçoes vezuviais
Tornados atrozes
Tsunamis vicerais

Mas quando você sair
Deixe na mesa um trocado
É pro café, pro cigarro
Para algo que eu possa fazer
Nesse sofrido
Intervalo

Por: Henrique Biscardi

quarta-feira, 28 de março de 2012

UMA RAZÃO PARA ESTAR AQUI


Eu Sabia
Alguma razão existia

Não que se precise de alguma razão para amar
Não! Não há
Há sim, contra-sensos
Um não querer olhar
Um desviar, um esconder-se,
Dis-far-çar

Mas do que adianta o não querer?
Se quem antes o precede já o quer
O desejo, esse moleque atrevido
Enxerga antes do que o visto
Calcula a mais do que o previsto
O que se tenta racionalizar

E não adianta mesmo o não querer
Quando córregos de sangue
São interpelados por um sopro estanque
Vindos do coração
Sinapses de tesão deixam neurônios enlouquecidos
A respiração fica ofegante
Odores saltam-se, inebriantes
E aí, meu amigo, não dá mesmo para disfarçar

E então, seu corpo sapateia 
E a menina, faceira,
Passa, de um lado ao outro, a bailar
Numa noite de sexta-feira
Em passos deliciosamente trôpegos
As duas almas se tocam

Eu já sabia
Alguma razão existia
Para  eu estar
Aqui 

Por: Henrique Biscardi

quarta-feira, 21 de março de 2012

O RESTO DE NOSSOS DIAS

Não!
Não está tanto calor
Pensei apenas em você
Com um pouco mais de amor
Eu sei
Também achei
Era impossível mais ardor
Mas o possível se tornou
Algo assim, tão previsível

Que a ninguém mais enganou

Encurto, então, essas palavras

E te agarro sem pudor

Te rapto, te levo pra cama

Pro nosso ninho de amor

Se o dia amanhece agora

O problema é dele

Se no trabalho tenho hora

Quem quiser, fique com ele
Pois não há mundo mais agora
Que vejo o seu corpo, assim, despido
Não é nada descabido
É apenas um visão de vida
Nos acabemos, assim, em brisa
Pois nada mais faremos
Pelo resto de nossos dias

Por: Henrique Biscardi

AMORES DISTANTES


É à noite que minha luz acende
Brilho intenso, luz de se despertar
Raivoso, coração isento
Talento não há de faltar

Vou lhe dizer palavras
Que não jogaras ao vento
Nem hoje, nem em qualquer tempo
Em qualquer lugar

Verdades não ditas a tempo
Que o medo não faz apagar
Me diz do que é feito esse seu olhar atento
Que não consigo decifrar

Nem a poeira que entra nos olhos
Arde e me faz chorar
É capaz de apagar a saudade do que não vivi
Dessa moça que me faz sonhar

Sonhos que perdi agora
Insônia de hoje
Ou de qualquer hora
Venha me acalentar

Nas horas que acordam o galo
Sou homem fialho  
Que foge das madrugadas frias da vida
Aquecendo-se nas lembranças de seu olhar

Mantenho viva, a esperança
Quem sabe um dia,  crio coragem
Compro passagem
E saio, para te encontrar



Henrique Biscardi

terça-feira, 20 de março de 2012

CIÚMES

Venha cá
Pare de graça
Parece criança
Fazendo pirraça
Beijando outra boca
No meio da praça
Querendo me fazer ciúmes

Coitado desse seu cúmplice
De olhos fechados
Todo compenetrado
Esforçando-se ao máximo
Para lhe dar algum prazer

Olha aí, não está vendo
Não há em você, nenhum desejo,
Suas pernas, eu vejo, estão firmes!
Beijas ele quase sem querer
Suas mãos, nem sabem o que fazer
Ficam aí, frouxas, soltas
Segurando o nada

Não devias tanto sofrer
Ocupar-se em me procurar
Só beijo quem desejo
Por quem tenho tesão
Por que então, essa atitude descabida,
Essa sua tola encenação?

Logo, a manhã vai surgir
Vou caminhar sozinho e deitar na rede
Vou sentir o seu cheiro
Vou sonhar com você
A noite passada foi passada
Ficou para trás
Pedaços de vida
Escondidos de nós

E se hoje não encontro seu corpo
Em meus lençóis
Apenas fica a pergunta
No amanhã,
O que será de nós?



Por: Henrique Biscardi

MEMÓRIA

Bebia ponche de olho em seu vestido rodado
Meias três quartos, brincos brilhantes
E um sorriso safado, mau comportado
Distantes
Do que eu podia
Perto do que eu queria
Mas você, já naquele tempo, sabia
Meus anos jamais seriam dourados.  

Passava o dia em ti pensando
E o pensamento voava até sua janela
Em brisa, pano e pedra
Ignorou os meus recados
Olhos no vidro trincado
Seu pai me pegou pelo braço
Você debochando de meu amor.

Te vi de novo nos meus anos de rebeldia
Polícia chegando, o pau quebrando
E você nem sabia
Seu pai, coronel
Prendeu-me por desacato
Vagabundo, malandro e viciado
Condenado sem nunca ter fumado, cheirado, picado...

Nos anos 80 eu era vanguarda
Conheci a cinelândia nos ombros do povo, ao lado do Brizola
Da Fafá, do Tancredo
De sua casa, diante de seu marido, seus filhos
O amor em segredo
Da saudade que doía em seu peito nasceu a lágrima
Que  todos pensaram ser de liberdade

Na outra década, decadência
Filho marginal, filha vagabunda, mulher traíra!  
Uma geração sem rumo, perdida
Sentia-me melhor quando era bosta
Mas o mundo de hoje é tão virtude, é tão virtual
Bool sheat!,  talvez eu pense, realmente pense
Nunca fui normal

E com essa anormalidade claudicante
Fui vivendo, amores itinerantes!
Alguns até interessantes
Eu, minha arrogância e meu viagra
Você fez bem naquela noite, meu bem
Eu te chamei para dançar e você não quis

Fomos sempre tão distantes,  
Fomos sempre, desiguais.
Esse vil desejo delirante
Espécie dilacerante
Cobre que derrete
Te serve, te prende, te cola
Te molda

Hoje, sua imagem não é tão bela
Está exposta em praça pública
Arranhada, pichada, dilacerada
Imagem bruta e fria
Onde não bate mais um coração
Pessoas olham e não te enxergam
Nenhuma delas tem os meu olhos
E eu, ainda te amo.

 
 
Henrique Biscardi

terça-feira, 13 de março de 2012

ESTRADA

Acima de nós há um atalho
Tento, em vão, descobrir porque sigo na estrada
Placas me sinalizam a direção errada
Olhares luminosos na beira da estrada
Enfatizam
De um lado, a montanha
Do outro, o abismo

Curvas me jogam de um lado ao outro
E chego a pensar o quanto elas desejam que eu derrape
Eu não ligo, sorrio
Confesso que adoro suas curvas, seu gingado
E pode me balançar a vontade
Sou como gato,
Tenho sete vidas

De vez enquanto, eu erro a mão
E ligo o rádio para não te escutar
Mas logo vem a luz da lua
Iluminando o seu asfalto,
Realçando o seu charme
Um tanto assim que  é quase verdade  
Penso mesmo em eternidade

Não existe nisso tudo, tanta verdade
Não tenho tanta perícia
Prudente seria ter pego lá no início,  o atalho  
Nosso amor era menor que a nossa estrada
E exprimido entre o abismo e a montanha, vejo
Hoje, não há mais possível estada  
Longe de você



Por: Henrique Biscardi 

POESIA

Eu nem te conhecia
E  já desejava a sua boca
Ficava extasiado com esse seu querer,
Essa sua vontade louca
Esses seus segredos e mistérios
Esse seu sorriso sincero  
Eles, me fizeram te esperar

Eu nem te conhecia
E já sabia o que é felicidade
Pintou assim, do nada na minha vida
Toda se querendo, só vontade
Como folhas que esperam a luz do dia para respirar
Flores que aguardam a primavera para florear
Eu esperava a lua mais bela para me encantar

Eu nem te conhecia
E meus dias já faziam mais sentido
O despertar do dia, o entardecer e a noite
Nas cores, havia um novo colorido
Tudo era mais belo, mais bonito
Parei de reclamar da vida
Passei a escrever poemas

Eu nem te conhecia
E já tinha inspiração
Era fechar os olhos e sentir seu toque
Sua pele, seu cheiro, seu tesão
Impulsionado as idéias
Corpo, mente, coração
E as palavras saiam, assim, em profusão

Eu nem te conhecia
E já sabia
Talvez eu nunca te veja
Talvez seja, apenas, uma visão
Uma esquizofrenia poética, uma imersão
Um anjo caído, perdido, um delírio
Talvez uma carência, um desejo, um cio

Ah! deixa pra lá
O que importa?
O que vai além do ser e do estar  em sua companhia?
Ah! deixa pra lá
Venha cá, me dê um sorriso e um beijo 
Antes, a noite termina
E a gente vai pra casa juntos, namorar

Por: Henrique Biscardi

quarta-feira, 7 de março de 2012

NOUTRO DIA

Noutro dia, a moça lhe estendeu a mão
Não foi por amor, carinho ou desejo
Foi um gesto nobre, um perceto
Do que ele precisava

Não esperou um agradecimento
Apenas sorriu
E saiu, humilde e triunfante
Radiante em sua rosada pele de menina

Esperou por tantos anos
Pensava em cantiga cantada
Ao pé do ouvido
Sussurrada e misturada com o seu suor

Envolta em seus fortes braços
Queria sentir um calor em sua nuca
Igual aquele que contorcia o seu ventre
Queria fechar os olhos e adormecer

Noutro dia, lhe estendeu a mão
Não foi por amor, carinho ou desejo
Foi para por fim a sua solidão
E caminhar feliz, em outra direção

O homem pereceu
Em sua arrogância peculiar
Gentil gesto de mulher
Que o destronou de seu impávido torvo olhar 

Desapareceu, ao longe,
No tanto que sua limitada visão alcançava
No bailar de seus quadris
Na firme convicção daquilo  que se quis

Noutro dia, a moça saiu  
Saiu para encontrar a vida
Saiu para ganhar o mundo
Saiu para se apaixonar

Não é todo dia que se ultrapassa as nuvens
Não é todo dia que se enxerga o mar

Por: Henrique Biscardi

sexta-feira, 2 de março de 2012

UMA RAZÃO PARA FALAR DE AMOR

Deslizando na poética dessa vida doida
Encontrei uma razão para falar de amor

As buzinas disparavam sons;
E o sol, me trazia vertigens.
O asfalto estava em brasa,
E queimava o óleo que se derramava sobre a moldura
Uma morena atravessava a rua
Sob a faixa do sinal
Uma beleza, uma escultura
Seguida em procissão
Por olhos sedentos,
Que caminhavam em profusão

E o verde que me fugia às vistas
Que tanto desejava, minha pressa guia
Surgiu numa folha que se desprendia de uma árvore
Embalou-se num vai e vem contínuo
Linda folha vadia  
Livre e solta no ar
Eu, preso nessa aparente apatia
Na rotina de todo dia
Na retina do limpador de vidro
Que me pedia um trocado

Eu, ainda ali, no frescor de meu ar-condicionado
Olhando o seu retrato
Esperando o sinal abrir
Querendo um pouco de mar
Pisar descalços na areia
Numa tarde/noite, bebedeira
Eu cheio de maldade, você de bobeira
Deslizando todo o seu charme para muito me encantar
Não precisa de tanto, moça
Quero apenas te ver sorrir,
Te encontrar

Quero apenas deslizar na poética dessa vida doida

E encontrar uma razão
Para amar

Por: Henrique Biscardi