terça-feira, 30 de abril de 2013

SUBLIMAÇÃO



A água da chuva se estilhaça
Vira fumaça no asfalto em brasa
E sobe aos céus
Alada
Leve e desprendida
Suas impurezas foram retidas
Nas retinas dos algozes que testemunharam o seu fim
Eu sou um deles
Sou!
Confesso!
Sempre gostei de ver a água se esborrachar no chão
Sempre gozei de sua medíocre extinção
Meu sadismo levou-me a esse delírio...
Pobre da chuva,
Ninguém, além de mim e daqueles que morrem de fome, a desejam
E aqueles que morrem de fome a desejam de verdade
Eu?
Quero apenas ver a gota e sua melancólica derrogação
É sadismo mesmo
A-do-ro vê-la se esborrachar de vez no chão!
E meu desejo é para que ela se estilhace mesmo
Gosto de vê-la arrebentar-se
Sinto prazer nessa colisão
Um esborrachamento quase hediondo!
Um destroçamento molecular
Hidrogênio para um lado, Oxigênio para outro
Aquilo me excita, de verdade
Penso nisso em todos os dias que o tempo fecha,
Os céus ficam cinza,
E as gotas se precipitam
Sinto angustia apenas na arquitetura atual
Os prédios de hoje estão cada vez maiores, mais altos
Quase não vejo mais a colisão da chuva com o solo
Tudo parece tão mais distante de meus gostos,
De meus desejos
Um dia desses uma gota passou por mim e sorriu
Debochou da minha condição
E quando subiu, alada, gritou 
Esborracha-se enquanto é tempo
Logo não sentirás mais prazer nem na água da chuva
Nem na brasa do asfalto
Nem subirás ao céu,
Alado 

Por: Henrique Biscardi

quinta-feira, 18 de abril de 2013

PREGUIÇA DANADA




Por pura preguiça
É capaz de ter
Alguém que me responda
Sem ter que escrever
Porque se eu tiver que ler
Por pura preguiça
Sei não      
É capaz de se perder!
Idéia importante
Coisa, que eu devia saber.

Por que hoje, eu acordei com preguiça
Mas uma preguiça da peste!
Daquelas que nem banho toma
Nem roupa veste
Preguiça que dá gosto de ver
Dessas sentida no corpo,
Estampada no rosto.
Preguiça tanta que já até disseram: é encosto!

Falaram também em Karma, trauma, ressaca, desgosto
Não é nada disso não. É só preguiça mesmo.
Eu até pensei em elaborar uma resposta pra esse povo
Mas para elaborar tem que pensar
Tem que pensar, e pensar, e pensar
E pensar, de novo?
E aí, não dá!
Porque é tanta preguiça
Mas tanta preguiça, gente
Que fica difícil até para inventar

Então, na boa
Fica combinado assim: É só preguiça e pronto!
Preguiça tamanha que ando até meio assim,
Moribundo,
Arredio, cabisbaixo, sem rumo
Nem cigarro mais, eu fumo!
Só de pensar naquela coisa de
Acender, tragar, apagar
Dá uma preguiça que eu vou te contar

Então, na boa
Se tens alguma explicação a me dar
Dê logo e não enche o saco
E seja suscinto, por favor 
E não escreva!
Transmita-me por pensamento, sinal de fumaça
Através de um toque, de um olhar
Sei lá.
Não vai me dizer que está com preguiça?!
Por que eu, estou!!!
Muuuuuuuuuita preguiça!
E é aquela preguiça que invade a alma, entende?

Então, na boa
Não estou aborrecido, magoado, chateado
Juro!
Se já queres ir, tudo bem
Vá!
Mas não me escreva!
Eu não vou ler
E se eu não conseguir ler         
É capaz de se perder!
Algo assim muito importante
Algo que ainda queiras me dizer

Abri os olhos só para vê-la partir  
Não levantei da cama
Apenas, abri os olhos
Mas ela, não partiu 
Preguiça danada!!!

Henrique Biscardi