Noutro dia, a moça lhe estendeu a mão
Não foi por amor, carinho ou desejo
Foi um gesto nobre, um perceto
Do que ele precisava
Não esperou um agradecimento
Apenas sorriu
E saiu, humilde e triunfante
Radiante em sua rosada pele de menina
Esperou por tantos anos
Pensava em cantiga cantada
Ao pé do ouvido
Sussurrada e misturada com o seu suor
Envolta em seus fortes braços
Queria sentir um calor em sua nuca
Igual aquele que contorcia o seu ventre
Queria fechar os olhos e adormecer
Noutro dia, lhe estendeu a mão
Não foi por amor, carinho ou desejo
Foi para por fim a sua solidão
E caminhar feliz, em outra direção
O homem pereceu
Em sua arrogância peculiar
Gentil gesto de mulher
Que o destronou de seu impávido torvo olhar
Desapareceu, ao longe,
No tanto que sua limitada visão alcançava
No bailar de seus quadris
Na firme convicção daquilo que se quis
Noutro dia, a moça saiu
Saiu para encontrar a vida
Saiu para ganhar o mundo
Saiu para se apaixonar
Não é todo dia que se ultrapassa as nuvens
Não é todo dia que se enxerga o mar
Por: Henrique Biscardi
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